A política de incentivo à importação de leite do Uruguai pelo Estado atinge em cheio o produtor, que está recebendo entre R$ 0,80 e R$ 1,20 pelo litro, enquanto que no ano passado, nesta mesma época, recebia R$ 1,70. Com a grande oferta que entra pelo país vizinho, os preços despencaram para o consumidor, que já consegue comprar por menos de R$ 2,00. Mas quem produz arca com prejuízo e muitos estão desistindo da atividade. Uma série de ações são encaminhadas por entidades representativas do setor, com apoio da Federação das Associações dos Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), em uma cobrança direta aos governos estadual e federal.

O produtor Jeferson Maciel está há 30 anos no ramo e não lembra de uma situação atípica como a que a categoria vive atualmente. Os meses de inverno, a partir de junho, historicamente são aqueles que proporcionam guardar dinheiro em caixa, quando sobe o preço e aumenta o consumo. Este ano, além do preço cair, o desemprego decorrente da crise econômica do país também reduziu o consumo.

O mais grave para Maciel, entretanto, é a entrada de leite via Uruguai. Destaca que não é apenas um produto de marcas do país vizinho, mas de outras, oriundas da Nova Zelândia e da Europa, onde há subsídios para produção primária. "O governo paga um plus para o produtor não deixar o campo e aí tem que vender. Empurra para cá, pelo Uruguai", afirma.

Segundo o produtor, uma marca famosa foi adquirida por empresa francesa, que manda o excedente de mercado para o Brasil. "O que o Uruguai produz não tem condições de exportar tanto assim", comenta, ao salientar que a tendência é dos preços baixarem ainda mais. E os custos de produção não caem, acrescenta.

A realidade do mercado brasileiro fez com que muitos produtores tenham optado por plantar soja ou outras culturas. Alguns reduziram a produção e muitos deixaram definitivamente o setor, relata Maciel. Salienta que os governos não poderiam deixar um produto de fora derrubar o que tem no país. "Vão causar mais desemprego aqui. Nunca tinha visto um desânimo tão grande entre os produtores", completa.

O presidente do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Estado do Rio Grande do Sul (Sindilat) e do Conselho Paritário Produtores/Indústrias de Leite do Estado do Rio Grande do Sul (Conseleite), Alexandre Guerra, participou de reunião no governo do Estado, junto com outras lideranças do setor lácteo, quando pediu o fim ao incentivo dado à importação de leite do Mercosul. Há uma expectativa de que a revogação dos decretos que concedem diferimento de ICMS para as operações de importação seja avaliada ainda esta semana.

A Famurs, conforme a assessoria de comunicação da entidade, também solicitou apoio à implantação imediata de um programa de aquisição dos estoques de leite em pó produzido pelas indústrias e cooperativas do Estado. Conforme Guerra, são 20 mil toneladas e isso pode tirar a pressão que existe no mercado. Ainda, a Famurs pediu apoio na promoção de programa para o desenvolvimento de novos mercados (nacional e internacional) para a produção leiteira brasileira e articulação para definição de uma política única de tributação dos lácteos importados, que permita ao produto nacional assegurar sua competitividade. Também há um otimismo em relação ao governo federal.

Resposta é esperada para sábado
A manifestação do governo do Estado é aguardada neste sábado em Esteio, na Expointer. Até lá, só quem está contente é o consumidor. A dona de casa Bárbara Zath precisa comprar quatro caixas com 12 litros cada ao mês, pois tem criança em casa. Compra o mais barato, independentemente da marca. O litro a R$ 1,95 lhe agrada, pois chegou a pagar R$ 3,10.

Já a técnica em enfermagem Vera Lúcia Couto diz não adquirir uma marca que não conhece. Para o casal Fernanda Rodrigues e Sílvio Neves não houve redução significativa nos valores, pelo menos não nas marcas que estão habituados a consumir. Já compraram certa vez três litros de uma desconhecida que estava em promoção e se arrependeram: só um foi aproveitado. As outras duas caixas estufaram e estouraram.

Preços
Confira os preços médios do litro de leite praticados no varejo nos últimos oito anos, de maio a julho.

Números
- No Estado existem 105 mil famílias de produtores de leite
- Na Zona Sul são 3,1 mil produtores que comercializam para a indústria
- Em Pelotas são 397

Fontes: Sindilat e Emater Pelotas